Pro Renato Teixeira (Oswaldo Montenegro)
Perguntei ao Renato Teixeira
Qual é maneira da vida brilhar
Ele disse: Acendendo a fogueira
Pegando uma estrela e jogando no mar
Perguntei onde estava a folia
Se o corpo que gira bambeia no ar
Ele disse: É o som dessa lira
Que traz alegria pra gente cantar
Perguntei se o que passa retorna
Ele disse: O que foi nunca mais vai voltar
Mas além do futuro o passado
Nos olha de lado, querendo brincar
Perguntei se pro tal violeiro
O negócio é dinheiro ou que que será
Ele disse: A resposta é a morena
Deitada na rede de papo pro ar
Perguntei dos mistérios das coisas
Da filosofia pro povo cantar
Ele disse: A resposta é o silêncio
Que mora tranquilo no fundo do mar
Não Importa Por Quê (Oswaldo Montenegro
A fita k-7 passou
Telefone sem bina também
O sonho do hippie acabou
Dos santos não sobrou ninguém
O tal socialismo morreu
A pura inocência eu perdi
O fim da vanguarda se deu
Depois do passado é aqui
O jovem que eu vi já não é
A bola de couro murchou
A grama tá sem o Pelé
Até o Titanic afundou
Planetas perderam Plutão
Há livros que ninguém mais lê
Tem bicho em total extinção
Mas eu ainda amo você
Pode Ser (Oswaldo Montenegro)
Pode ser que a gente se acostume a ficar só
Tente, só que eu duvido muito
Quando a gente fica junto o coração desfaz o nó
E bate palma pra entrar na brincadeira
E bate palma que é pra mão não ficar só
E bate palma pra entrar na brincadeira
E bate palma que é pra mão não ficar só
E bate como vai bater a vida inteira o coração
Quando a gente se separa...
Dá um nó
Escondido no Tempo (Oswaldo Montenegro)
Como o legado dos maias, menina
Como o que vem da maré
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
Como o segredo da cor turmalina
O fim da nação Aimoré
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
O inventor da gandaia, é tudo o que eu quero ser
O rei do rabo de arraia, menina, é tudo o que quero ser
E gente da tua laia, é tudo o que eu quero ser
E esse tomara que caia, menina, é tudo o que eu quero ser
Como o segredo do sol que ilumina
Londres e a Praça da Sé
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
Como quem nasceu em Amaralina
Que traz o gingado no pé
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
O defensor da mulata é tudo o que eu quero ser
O nó que nunca desata, menina, é tudo o que eu quero ser
O Zumbi da tua mata é tudo o que eu quero ser
O percussionista de lata, menina, é tudo o que eu quero ser
Como o painel de Van Gogh e a retina
E o sangue azul da ralé
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
Como quem diz que me odeia e me anima
Qual o segredo da fé?
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
O grão-vizir da Baixada é tudo o que eu quero ser
Demolidor de fachada, menina, é tudo o que eu quero ser
O doido da madrugada é tudo o que eu quero ser
Um bicho estranho ou nada, menina, é tudo o que eu quero ser
Vinheta de “Primavera” (Vivaldi)
Palma (Ulysses Machado)
É pra cantar batendo palma
De modo que a mão que bate na mão
Provoque essa dor no corpo
Na hora em que a força é perto do medo
A palha da brasa, o pavio da bomba
O grito da calma e a palma
É pra cantar batendo palma
Não se trata de simples manifestação mecânica
Não não não não precisa bater no compasso da métrica
Arrebentaremos as pautas e notas
Tímpanos, pífanos, sopranos, maestros
Cartões de ponto e a palma
É pra cantar batendo palma
Não precisa profundidade de causa
Pra bater palma e morrer de canção de paixão e a palma
É pra cantar batendo
Não deixaremos de tirar nosso sutiã
Lingerie de vontade contida
Cuspindo pro lado, batendo na vida
Fazendo discurso e palma
Incompatibilidade (Oswaldo Montenegro)
E bate louco
Bate criminosamente o coração mais do que a mente
Bate o pé mais do que o corpo poderia
Se você mentalizasse na folia
Sabe lá se não seria a solução pra de manhã pensar melhor
E caso fosse, a incompatibilidade entre corpo e consciência
Iria desaparecer, você não vê?
Como o corpo preparado pode ser iluminado
Como a luz de uma fogueira que precisa se manter
E atingido pela plena consciência
De que o corpo em decadência faz a tua consciência esmorecer
Pelos poros elimina-se o que o corpo não precisa
E não precisa pra pensar abdicar desse prazer
Se você dançar a noite inteira
Não significa dar bobeira de manhã se alienar ou esquecer
É como a busca do supremo equilíbrio
Num processo inteligente sua mente clarear sem perceber
Van Gogh: A Loucura Amarela (Oswaldo Montenegro)
Quem é Que Sabe? (Oswaldo Montenegro)
Quem é que sabe, é o que pensa ou o que arrisca?
Quem é que sabe, saberia ou saberá?
Quem é que sabe o quê que vai durar no tempo?
Quem é que diz o que o futuro abrigará?
Qual é o valor que pode ter o pensamento?
Quem é o juiz que vai nos dar o alvará?
Qual é o artista que é melhor do que o colega?
Qual é a música que o povo aplaudirá?
Qual é a justiça que abre o olho e diz que é cega?
Qual é o porto donde o barco afundará?
Quem é que sabe, é o que pensa ou o que arrisca?
Quem é que sabe, saberia ou saberá?
Qual é o leme que o capitão confisca?
Qual é o líder que o povo seguirá?
Qual é o certo, é o que pensa ou o que arrisca?
Quem é que sabe, saberia ou saberá?
Qual é a cor do vento frio em seu cabelo?
Qual é o defeito que a modéstia esconderá?
Qual é a ponta que enrolou esse novelo?
Quem é que diz, quem é que escuta ou vai falar?
Quem é que sabe, é o que pensa ou o que arrisca?
Quem é que sabe, saberia ou saberá?
Qual é o critério que consagra a poesia?
Quem é que marca a ferro e fogo seu lugar?
Quem é que diz se é madrugada, é noite ou dia?
Qual é o limite em dar carinho ou educar?
Quem é que sabe o que é que faz a qualidade?
Quem é que sabe o que jamais perecerá?
E a gente fica velho assim com que idade?
Quem é que diz, quem é que escuta ou vai falar?
Quem é que sabe, é o que pensa ou o que arrisca?
Quem é que sabe, saberia ou saberá?
Como eu não sei e nunca soube nada assino
Eu me divirto e levo a vida em declarar
Que a vida é quase que um mergulho na piscina
São dois segundos pra se aprender a nadar
Primeiro Amor (Patápio Silva)
Cigana (Oswaldo Montenegro)
Eu me vesti de cigana
Pra cantar o sol
Fiz comício e deu cana
Pra cantar o sol
Ah, que riso bacana
Pra cantar o sol
Virtuosa e profana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo amor que emanar, pra cantar o sol
Fui quem se dava e se dana
Pra cantar o sol
Quem se empolga e cigana
Pra cantar o sol
Quem teu hálito abana
Pra cantar o sol
Quem não mente, te engana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
Fiz do meu corpo cabana
Pra cantar o sol
Fiz de um ano semana
Pra cantar o sol
Fiz do amor porcelana
Pra cantar o sol
Fui cigarra e cigana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
Fui tua mão que te esgana
Pra cantar o sol
O que o brilho não empana
Pra cantar o sol
Meu amor tinha gana
De cantar o sol
Virgem santa e sacana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
Amores (Oswaldo Montenegro)
Cada alegria desfaz algum nó
Não é preciso entender as paixões
Cada manhã vai te encontrar
Mesmo sem você querer
Mesmo se o sono durar
Sim, cabe ao amor te aliviar
Do que te cansa
Sai, dança no sol, solta tua voz
Que a luz te alcança
Dança! Dança!
Que o mundo vai te esquecer
Que o mundo não vai lembrar
Dança, dança
(Dança, dança, dança, pra cantar o sol
Todo amor que emanar pra cantar o sol)
A Bailarina e o Rei (Oswaldo Montenegro)
A bailarina me odeia, eu sei
E eu gosto tanto de vê-la dançar
Foi pra TV, se casou com o rei
Que um dia me avisou que eu não aparecesse por lá
O rei ainda pensa que eu quero ser rei
E eu gosto tanto de vê-lo reinar
No seu discurso de posse eu falei
Que um dia um poeta me falou que os reis não sabem dançar
Árvores e Ventos (Oswaldo Montenegro e Mongol)
O Artista e o Santo (Ulysses Machado)
Tudo o que o artista fala é engraçado
O artista é um santo disfarçado
Daquilo que o santo não gosta de ser
Tudo o que artista faz é engraçado
O artista é um bichinho danado
Que o santo não gosta mais quer ser
Santo é forte, carrega nas costas
O artista carrega onde der pra carregar
Santo é forte, garante na morte
O artista de sorte garante a do santo
Santo é forte, precisa de reza
O artista que não reza não vai lá
E não me apurrinha, que o santo é capeta!
O artista é porreta, eu quero virar
E se o artista rebola é engraçado
Santo não rebola que o santo é danado
Santo é diferente, santo é displicente
Santo é do pau oco, santo é do rosário
O espírito é santo, santo é necessário
E o que a Santa Trindade tem de eleitorado
E se o artista rebola
Tudo que o artista fala é engraçado
E o santo, coitado, faz pela metade
Que o santo é de todos o maior responsável
Pelo bom controle da natalidade
E o milagre do filho abandonado
É o mistério da santa castidade
Tudo que o artista fala é engraçado
O santo leva sério e convence ao diabo
Deus está presente na ausência do santo
Deus foi o primeiro a ser canonizado
E se o artista repete deus castiga
E se pede perdão tá perdoado
Pra Longe do Paranoá (Oswaldo Montenegro)
Numa tarde quente eu fui-me embora de Brasília
Num submarino do Lago Paranoá
Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro
Namorando Madalena na beira do mar
Qualquer dia, mãe, você vai ter uma surpresa
Vendo na TV meu peito quase arrebentar
Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro
Namorando Madalena na beira do mar
Quem quiser que faça o velho jogo da política
Na sifilítica maneira de pensar
Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro
Namorando Madalena na beira do mar
Eu tenho o coração vermelho
E o que eu canto é o espelho do que se passa por lá
No Rio de Janeiro
Namorando Madalena na beira do mar
Vamos Celebrar (Oswaldo Montenegro)
Eu gosto de andar pela rua, bater papo, de lua
E de amigo engraçado
Eu gosto do estilo do Zorro
O visual lá do morro e de abraço apertado
Eu gosto mais de bicho com asa
Mais de ficar em casa e mais de tênis usado
Eu gosto do volume, do perfume
Do ciúme, do desvelo e do cabelo enrolado
Eu gosto de artistas diversos
De criança de berço e do som do atchim
Eu gosto de trem fora do trilho
E de andar com meu filho e da cor do marfim
Tem gente, muita gente que eu gosto
Que eu quase aposto que não gosta de mim
Eu gosto é de cantar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar
Vamos celebrar
Eu gosto de artista circense
De artista que pense, de artista voraz
Eu gosto de olhar para frente
Mas de amar para sempre o que fica pra trás
Eu gosto de quem sempre acredita
A violência é maldita e já foi longe demais
Eu gosto do repique, do atabaque
Do alambique, badulaque, do cachimbo da paz
Eu gosto de inventar melodia
Da palavra poesia e de palavra com til
Eu gosto é de beijo na boca
De cantora bem rouca e de morar no Brasil
Eu gosto assim do canto do povo
E de tudo que é novo e do que a gente já viu
Eu gosto é de cantar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar
Vamos celebrar
Eu gosto dos atores que choram ali por nós
E namoram ali por nós na TV
Eu gosto assim de quem é eterno
E de quem é moderno e de quem não quer ser
Eu gosto de varar madrugada
E de quem conta piada e não consegue entender
Eu gosto da risada, gargalhada
Da beleza recriada pra que eu possa rever
Eu gosto de quem quer dar ajuda
E acredita que muda o que não anda legal
Eu gosto de quem grita no morro
Que alegria é socorro e que miséria é fatal
Eu gosto do começo, do avesso
Do tropeço, do bebum que dança no carnaval
Eu gosto é de cantar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar
Vamos celebrar
Eu gosto é de ver coisa rara
A verdade na cara é do que gosto mais
Eu gosto porque assim vale a pena
A nossa vida é pequena e tá guardada em cristais
Eu gosto é que Deus cante em tudo
E que não fique mudo, morto em mil catedrais
Eu gosto é de cantar
Vamos celebrar, celebrar, celebrar
Vamos celebrar
BLOCO SERENATA
Citação do “Largo de Bach” (Johann Sebastian Bach)
Velhos Amigos (Oswaldo Montenegro)
Velhos amigos vão sempre se encontrar
Seja onde for, seja em qualquer lugar
O mundo é pequeno, o tempo é invenção
O amor desfaz na tua mão
Nada passou, nada ficará
Nada se perde, nada vai se achar
Põe nosso nome na planta do jardim
Vivo em você e você dorme em mim
E quando eu olho o imenso azul do mar
Ouço teu riso e penso: onde é que está?
A nossa planta o vento não desfez
É nunca mais, mas é mais uma vez
Me Ensina a Escrever (Oswaldo Montenegro)
Meu amor
Me ensina a escrever
A folha em branco me assusta
Eu quero aprender as palavras
E frases que possam tecer
A rede em que você descansa
E os sonhos que você tiver
Meu amor
Me ensina a fazer
Uma canção dizendo quanto custa
Trancar aqui dentro as palavras
Calando e querendo dizer
Não sei se o poema é bonito
Mas sei que preciso escrever
Agonia (Mongol)
Se fosse resolver
Iria te dizer foi minha agonia
Se eu tentasse entender
Por mais que eu me esforçasse
Eu não conseguiria
E aqui no coração eu sei que vou morrer
Um pouco a cada dia
E sem que se perceba
A gente se encontra pra uma outra folia
Eu vou pensar que é festa
Vou dançar, cantar, é minha garantia
E vou contagiar diversos corações
Com minha euforia
E a amargura e o tempo
Vão deixar meu corpo, minha alma vazia
E sem que se perceba
A gente se encontra pra uma outra folia
Citação da “Ária da Corda Sol” (Johann Sebastian Bach
Estrada Nova (Oswaldo Montenegro e Mongol)
Eu conheço o medo de ir embora
Não saber o que fazer com a mão
Gritar pro mundo e saber
Que o mundo não presta atenção
Eu conheço o medo de ir embora
Embora não pareça, a dor vai passar
Lembra se puder
Se não der esqueça
De algum jeito vai passar
O sol já nasceu na estrada nova
E mesmo que eu impeça, ele vai brilhar
Lembra se puder
Se não der esqueça
De algum jeito vai passar
Quando a Gente Ama (Marcelo Barbosa, Bozo Barretti, Fábio Caetano e Nil Bernardes)
Quem vai dizer ao coração
Que a paixão não é loucura
Mesmo que pareça insano acreditar
Me apaixonei por um olhar
Por um gesto de ternura
Mesmo sem palavra alguma pra falar
Meu amor, a vida passa num instante
E um instante é muito pouco pra sonhar
Quando a gente ama, simplesmente ama
É impossível explicar
Intuição (Oswaldo Montenegro e Ulysses Machado)
Canta uma canção bonita
Falando da vida em ré maior
Canta uma canção daquela
De filosofia e mundo bem melhor
Canta uma canção que aguente essa paulada
E a gente bate o pé no chão
Canta uma canção daquela
Pula da janela, bate o pé no chão
Sem o compromisso estreito
De falar perfeito, coerente ou não
Sem o verso estilizado, o verso emocionado
Bate o pé no chão
Léo e Bia (Oswaldo Montenegro)
No centro de um planalto vazio
Como se fosse em qualquer lugar
Como se a vida fosse um perigo
Como se houvesse faca no ar
Como se fosse urgente e preciso
Como é preciso desabafar
Qualquer maneira de amar varia
E Léo e Bia souberam amar
Aquela Coisa Toda (Mongol)
Olhe bem nos meus olhos
Olhe bem pra você
O fato é que a gente perdeu toda aquela magia
A porta dos meus 15 anos não tem mais segredo
E velha, tão velha ficou nossa fotografia
Olhe bem nos meus olhos
Olhe bem pra você
A quem é que a gente engana com a nossa loucura?
Decerto que a gente perdeu a noção do limite
E atrás tem alguém que virá, que virá, que virá, que virá, que virá...
Estrelas (Oswaldo Montenegro)
Pela marca que nos deixa a ausência de som
Que a emana das estrelas
Pela falta que nos faz
A nossa própria luz a nos orientar
Doido corpo que se move
É a solidão dos bares que a gente frequenta
Pela mágica do dia
Que independeria da gente pensar
Não me fale do seu medo
Eu conheço inteira sua fantasia
E é como se fosse pouca
E a tua alegria não fosse bastar
Quando eu não estiver por perto
Canta aquela música que a gente ria
É tudo o que eu cantaria
E quando eu for embora você cantará
Por Brilho (Oswaldo Montenegro)
Onde vá
Onde quer que vá
Leva o coração feliz
Toca a flauta da alegria
Como doce menestrel
Onda vá
Onde quer que eu vá
Vou estar de olho atento
À tua menor tristeza
Por no teu sorriso o mel
Onde vá
Vá para ser estrela
As coisas se transformam
Isso não é bom nem mal
E onde quer que eu esteja
O nosso amor tem brilho
Vou ver o teu sinal
Lua e Flor (Oswaldo Montenegro)
Eu amava como um pescador
Que se encanta mais com a rede que com o mar
Eu amava como jamais poderia
Se soubesse como te contar
A Lista (Oswaldo Montenegro)
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás?
Quantos você ainda vê todo dia?
Quantos você já não encontra mais?
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar?
Quantos amores jurados pra sempre?
Quantos você conseguiu preservar?
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava?
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos, ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assovia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?
Bandolins (Oswaldo Montenegro)
Como fosse um par, que nessa valsa triste
Se desenvolvesse ao som dos bandolins
E como não e por que não dizer
Que o mundo respirava mais
Se ela apertava assim seu colo
E como se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio se dançar assim
Ela teimou e enfrentou o mundo
Se rodopiando ao som dos bandolins
Como fosse um lar, seu corpo a valsa triste iluminava
E a noite caminhava assim
E como um par, o vento e a madrugada
Iluminavam a fada do meu botequim
Valsando como valsa uma criança
Que entra na roda, a noite tá no fim
E ela valsando só na madrugada
Se julgando amada ao som dos bandolins
Sem Mandamentos (Oswaldo Montenegro)
Hoje que quero a rua cheia de sorrisos francos
De rostos serenos, de palavras soltas
Quero a rua toda parecendo louca
Com gente gritando e se abraçando ao sol
Hoje eu quero ver a bola da criança livre
Quero ver os sonhos todos nas janelas
Quero ver vocês andando por aí
Hoje eu vou pedir desculpas pelo que eu não disse
Eu até desculpo o que você falou
Quero ver meu coração no seu sorriso
E no olho da tarde a primeira luz
Hoje eu quero que os boêmios gritem bem mais alto
Quero um carnaval no engarrafamento
E que dez mil estrelas vão riscando o céu
Buscando a sua casa no amanhecer
Hoje eu vou fazer barulho pela madrugada
Rasgar a noite escura como um lampião
Vou fazer seresta na sua calçada
Eu vou fazer misérias com seu coração
Hoje eu quero que os poetas dancem pela rua
Pra escrever a música sem pretensão
Quero que as buzines toquem flauta-doce
E que triunfe a força da imaginação
BLOCO BLUES
Sol e Lua (Sérgio Chiavazzoli)
Canto de Trabalho dos Negros Americanos (autor desconhecido)
Brother John said
In the chapter 14
If a man lives
Let his sin be seen
Nunca Fui um Bluesman (texto de Ulysses Machado)
Nunca fui um blues man.
Mas se você prestar atenção, ali, a 90 graus de latitude e 90 de longitude, vai sentir um coração fervendo estranho. Vai ouvir o sinal da encruzilhada e alguma coisa me dizendo sussurrado: “Escuta, velho!”
Nunca fui um bluesman, mas sempre perdi minha paciência pouca com almas boazinhas e excesso de higiene.
Nunca fui um bluesman, mas minha escala pentatônica perdeu a terceira nota no colo da mulher mais linda, no beco mais escuro, onde o gato chefe olhando perna, roupa e bunda, cantou vadio e miando: “Escuta, velho!”
Eu nunca fui um bluesman. Mas se o relógio no seu pulso já lhe morde o braço, se você já tá medonho, frouxo, louco de cansaço, se o teu pé prende na lama e afundando perde o passo e se é em mim que você vê o Lampião do seu cangaço, eu chego perto e digo rouco: “Escuta, velho!”
Eu nunca fui um blues man. Mas pede um blues que eu faço!
Não diga num Blues (Zé Alexandre e Mongol)
Não diga num blues
Que a Terra é redonda e o mundo pode rodar
Não diga num blues
Que a chuva molha e que o fogo pode queimar
Não venha dizer num blues
Que a aura é branca, a alma é negra, pode parar!
Não diga num blues
Que a fruta quase podre um dia vai melhorar
Só diga num blues
Que eu canto e canto só pelo prazer de cantar
Que a vida sopra num blues
Aquilo que o blues na vida deixa soprar
Blues não é privilégio de quem já sofreu
Hoje sofrer não é mais privilégio de ninguém
Não tente entender a lógica de um blues
O blues é a negação da lógica que o blues não tem
A lógica que o blues não tem, a lógica que o blues não tem
Não diga, não diga, não diga num blues
Do Muito e do Pouco (Oswaldo Montenegro e Zé Ramalho)
Se em terra de cego quem tem um olho é rei
Imagine quem tem os dois
Se em terra de cego quem tem um olho é rei
Imagine quem tem os dois
É muito quadro pr’uma parede
É muita tinta pr’um só pincel
É pouca água pra muita sede
Muita cabeça pr’um só chapéu
Muita cachaça pra pouco leite
Muito deleite pra pouca dor
É muito feio pra ser enfeite
Muito defeito pra ser amor
É muita rede pra pouco peixe
Muito veneno pra se matar
Muitos pedidos pra que se deixe
Muitos humanos a proliferar
Se em terra de cego quem tem um olho é rei
Imagine quem tem os dois
Se em terra de cego quem tem um olho é rei
Imagine quem tem os dois
Mistérios (Oswaldo Montenegro)
Tudo que eu pensei saber ainda é mistério
Qual é a relação de Crato com New Orleans?
A chave do amor é uma risada ou é um jeito sério?
É singular o fecho todo ou já são vários fins?
É sempre o mesmo Deus ou troca como um Ministério?
O ciclo começa por onde: noite ou manhã?
O barco do destino é uma prisão ou é um grande império?
Mas Deus frequenta a arquibancada do Maracanã
Anjos e Demônios (Oswaldo Montenegro)
São sete bichos
Sete regras do jogo
Sete provas de fogo
Para a lógica de cada um
São sete mundos
Pelo mesmo planeta
A mesma bola na roleta
E apostando no número um
São sete dores e sorrisos em jogo
Habitando sete corpos sem ponto comum
Observando na mesma estação
Os anjos e demônios de cada um
Simpatia de Giz (Oswaldo Montenegro)
Eu não aguento mais ouvir o que você diz
O teu jeito de profeta lá da Praça Paris
Esse jeito de ser o que você queria ser, mas não é
Me olha como folha e pensa como raiz
É o teu jeito de bancar um cara rico e feliz, mas não é
Mete o pau na água e compra um chafariz
Acha que é um rei e ri dos meus bem-te-vis
Acha que é o dono dessa bola que eu não quis, mas não é
Paulo Veiga (Sérgio Vasconcellos e Carlos Michelsen)
Quem é que lembra a capital da Costa Rica?
Quem é que dá presente pra Papai Noel?
Qual o diâmetro da lata da Cica?
E o sobrenome do inventor do pincel?
Quem é que disse que Freud não explica?
Em que ano Caim matou Abel?
Qual é o tom da afinação da cuíca?
Qual a distância entre a terra e o céu?
E qual o número do pé da Cinderela?
E o sobrenome da avó da Chapeuzinho?
Qual é a cor do inventor da aquarela?
Qual é a vaca que inventou o Leite Ninho?
Qual é a marca do piano do Chopin?
Por que é laranja a caixa preta do avião?
Quem sabe o quê que quer dizer Maracanã?
Como é que faz pra terminar essa canção?