Simpatia de Giz (Oswaldo Montenegro)
Eu não aguento mais ouvir o que você diz
O teu jeito de profeta lá da Praça Paris
Esse jeito de ser o que você queria ser, mas não é
Me olha como folha e pensa como raiz
É o teu jeito de bancar um cara rico e feliz, mas não é
Olha como ET e pensa como perdiz
É o teu jeito de bancar um cara rico e feliz, mas não é
Mete o pau na água e compra um chafariz
Acha que é um rei e ri dos meus bem-te-vis
Acha que é o dono dessa bola que eu não quis, mas não é
Eu não suporto mais tua simpatia de giz
O teu jeito de saber do vento mais que o nariz
Esse jeito de ser o que você queria ser, mas não é
Me olha como ET e pensa como perdiz
É o teu jeito de bancar um cara rico e feliz, mas não é
Querendo me ensinar aquilo que eu sempre fiz
Usando o que é dos outros pra sonhar e não diz
Fundando a filial querendo ser a matriz, mas não é
Sempre não é todo dia (Oswaldo Montenegro e Mongol)
Eu hoje acordei tão só
Mais só do que eu merecia
Olhei pro meu espelho e rá!
Gritei o que eu mais queria
Na fresta da minha janela
Raiou, vazou a luz do dia
Entrou sem me pedir licença
Querendo me servir de guia
E eu que já sabia tudo
Das rotas da Astrologia
Dancei, e a cabeça tonta
O meu reinado não previa
Olhei pro meu espelho e rá!
Meu grito não me convencia
Princesa eu sei que sou pra sempre
Mas sempre não é todo dia
Botei o meu nariz a postos
Pro faro e pro que vicia
Senti seu cheiro na semente
Que a manhã me oferecia
Olhei pro meu espelho e rá!
Meu grito não me convencia
Princesa eu sei que sou pra sempre
Mas sempre não é todo dia
Eu hoje acordei tão só
Mais só do que eu merecia
E eu acho que será pra sempre
Mas sempre não é todo dia
Todo mundo é lobo por dentro (Petulante) (Oswaldo Montenegro)
Você me disse que eu sou petulante, né?
Acho que sou sim, viu?
Como a água que desce a cachoeira
E não pergunta se pode passar
Você me disse que meu olho é duro como faca
Acho que é sim, viu?
Como é duro o tronco da mangueira
Onde você precisa se encostar
Você me disse que eu destruo sempre
A sua mais romântica ilusão
E que destruo sempre com minha palavra
O que me incomodou
Acho que é sim
Como fere e faz barulho o bicho que se machucou
Como fere e faz barulho o bicho que se machucou
Letras Brasileiras (Oswaldo Montenegro)
Dez mil rubis
Mil pedras turmalinas
Cem mil cometas
Um milhão de sóis
Dez mil Joões
Mil vidas severinas
Cem mil poetas, todos eles sós
Em procissões, Natais e serpentinas
Dez mil mãos postas
Mães, irmãos, avós
A esperança é profissão e sina
Ensina laços a fingir de nós
São cem cavalos, dez luzes na crina
São luas, muitas luas e faróis
São mil perdões, que aos bons não se incrimina
Cem mil poetas, todos eles sós
Televisões em cada casa e em cima
Parece um bicho a antena
E cada voz parece voz que nunca desafina
Na serenata para o seu algoz
Milhões de versos, cem milhões de rimas
No mesmo mar são dez milhões anzóis
Pescando alma em dós, bordões e primas
Cem mil poetas, todos eles sós
O País dos Canários Amarelos (Oswaldo Montenegro)
Katimanhê, em alopal di
Katinhalohana de vestal e di
Era um canário de amarelo ouro
Era à capela o coro
O coro enorme que os bichos faziam
Era questão de ser demais
Questão de ser a maravilha e o cais
E o que vale
Em cada bicho
É a asa
O País da Esperança (Oswaldo Montenegro)
Segue, que esse dia passa
Sem que se perceba eu quase acho graça
Vejo o seu sorriso me guiar na estrada
Pela ventania, última pousada
Viajante só
Segue, que a sua palavra
Já foi quase ouvida e quem caminhava
Alcançou o dia se tornou celeste
Pilar - O país dos Poetas ( Oswaldo Montenegro sobre a canção "Pilar", de Jararaca)
'Inda ontem vim de lá do Pilar
'Inda ontem vim de lá do Pilar
Já tô com vontade de ir por aí
Esse é o país dos poetas
Que tiraram o pé do chão
Fazem curva em linha reta
E andam só na contra mão
Descem sempre para cima
Só escutam com a retina
Pensam com seu coração
'Inda ontem vim de lá do Pilar
'Inda ontem vim de lá do Pilar
Já tô com vontade de ir por aí
Vai, princesa, o sentimento
Do poeta que te adora
Saiba que o pai do tempo
Não casou com a mãe da hora
Toda lógica é o momento
E a gente só sente o vento
Quando o vento foi-se embora
'Inda ontem vim de lá do Pilar
'Inda ontem vim de lá do Pilar
Já tô com vontade de ir por aí
Encontrei Mané Vieira
No caminho de Santa Rita
Com uma viola no peito
E o braço só era fita
Êta, estrela d'alva é tão bonita
Êta, estrela d'alva é tão bonita
'Inda ontem vim de lá do Pilar
'Inda ontem vim de lá do Pilar
Já tô com vontade de ir por aí
Fica a leste atrás do norte
Quando o oeste aparecer
Fica ao sul atrás do corte
Depois de onde o sol nascer
Fica fria, a morte é certa
Minha avó que era esperta
Morreu antes de nascer
'Inda ontem vim de lá do Pilar
'Inda ontem vim de lá do Pilar
Já tô com vontade de ir por aí
Sujeito Estranho (Oswaldo Montenegro)
Era um sujeito estranho na barba nos olhos
No rosto de sal e mais
Era um sujeito como se fosse possível
Chover sem molhar e mais
Era como se um índio pudesse tentar
Ser como ele era e mais
Era um menino estranho, um homem tamanho
Sabia pegar e mais
Era como se a força Como se um redemoinho puxasse mais
Era como se a lua que eu trago nos dedos
Nos puxasse mais e mais
Era como se não tivesse sido jamais
Banal (Oswaldo Montenegro e Mongol)
Quero que se dane a estrutura, a coerência
Que o homem construiu nesse planeta
Olha meu Deus, o pensamento é banal
Todo o pensamento é banal
Quero que a lógica se dane
Olha, princesa, o pensamento é banal
Lógica é sempre o menor pedaço do que o homem
Construiu nesse planeta o resto se perdeu
Meu Deus, o pensamento é banal
Todo pensamento é banal
Quero que a lógica se dane
Olha, princesa, o pensamento é banal
Matemático andarilho, o carroceiro
Seu amigo, mago da intuição
Não pense, o pensamento é banal
Todo pensamento é banal
Quero que a lógica se dane
Olha, princesa, o pensamento é banal
Da cartesiana sensação de coerência
Em que a prudência vale mais
Que andar na corda bamba solta e total
Eu tenho horror é banal Todo pensamento é banal
Quero que a lógica se dane
Olha, princesa, o pensamento é banal
O País dos Tristes (Oswaldo Montenegro)
Ah, quando a dor se for restará
Mais do que alma cedeu
Mais do que o mar nunca jamais concebeu
Tudo o que não voltará, nasceu
E a nossa alegria andará
Onde o suor escorreu à deriva
Acende o olhar no breu
Tudo o que não voltará, nasceu
A Lista (Oswaldo Montenegro)
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ‘inda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
O Pais das Bruxas (Oswaldo Montenegro)
E na escuridão
Eram doze bruxas dançando em volta de Desirée
E cada uma, então
Era uma hora, um mês, um signo que não se vê
Onde é o Reino dos Mortos? Desirée pergunta
E as bruxas lhe põem a mão
Levantando o corpo e a dor do desejo imenso
Mostrando a porta aberta no coração
Que a vida compense e que seja feliz...(Oswaldo Montenegro)
Que a vida compense e que seja feliz / Castelo de Vestal / Viver é bom (Oswaldo Montenegro)
A música que vão ouvir é brincadeira
Vampiros não existem, mas sim,
Existem de outra maneira
Alguém suga coisas em você e em mim
A morte é igual, falsa e verdadeira
Mãe do início, avó do fim
Que seja a morte o fim da esperança
A morte é o beijo que ficou sem graça
É a velha que já não dança
É quem não gosta de você de graça
É o ciúme que devora e cansa
É a paixão que te incendeia e passa
A morte é a família que te odeia
É a inveja de quem você adora
Como um sangue que sabota a veia
É a tua espera quando alguém demora
É o amigo lá da tua aldeia
Que esqueceu onde você mora
Que seja a morte a morte de quem você quer bem
É o vício de quem espera a sorte
Pra quem a sorte nunca vem
É a morte de quem vem do Norte
E passa a vida esperando o trem
É o pai que não diz que te ama
Para alguns, Castelo de Vestal
Pra mim é quando alguém me engana
Para alguns é só ponto final
A morte é o quadro-negro com saudade da mão com giz
Para alguns é dor
Para outros, sossego
A platéia vazia é a morte da atriz
Por fim, é um brinde a viver sem medo
Que a vida compense
E que seja feliz
No velho castelo de vestal
Entre antigos copos de cristal
Bebem os vampiros e os anões
À saúde do seu rei
Desirée, princesa do local
Namora com a noite e o temporal
Velho inimigo das paixões
Levou seu amado rei
A mágica ensina o que a lógica evita
Princesa acredita, viver é bom
Por mais que pareça que a dor é infinita
Princesa acredita, viver é bom
Olha, princesa, a dor de viver
É a dor de não ter a resposta
Em seguida do gesto
É a dor de não ver o exato contorno
Do que se queria enxergar
Ah, da pena de ver
O sutil descompasso, o total desacerto
Entre a água e a sede
Entre o peixe e a rede
Entre a linha e o ponto
E esse tal desencontro, princesa
É a dor de viver
Queria te dar tanta coisa bonita
Princesa, acredita, viver é bom
O País das Atrizes (Oswaldo Montenegro)
E cada personagem é o fascínio
E não há quem possa explicar
A mágica do mágico na minha alma de atriz
Há de transformar
A pérola dos olhos ilumina o que eu for
Onde quer que eu vá
E cada personagem é a menina que eu fui
E a que virá
E o rosto da pessoa que eu quero ser
Está em cada rosto que eu me pintar
E cada mil pessoas que eu for fingindo que serei
Eu serei quando alguém vir em mim o que ele será