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Oswaldo Montenegro

Ficha Técnica:
Produção: Sérgio Vasconcellos
Arranjos: Oswaldo Montenegro e Sérgio Chiavazzoli
Fotos: Marcelo Brasil
Gravação: Estúdios Albatroz
 
Participação Especial: Geraldo Azevedo
Aos Filhos dos Hippies (1995)

E de Agora em Diante (Oswaldo Montenegro)

E de agora em diante teria sido decretado o amor sem problemas
E seriam vítimas os olhos, e as almas vagariam sem medo
E de agora em diante seria pra sempre o que pra sempre acabara
E seria tão puro o desejo dos homens, que Dionisio enlaçaria a virgem com braços enternecidos
E aplaudiríamos, calmos e frenéticos como um são Francisco febril
E de agora em diante pra trás não haveria
Não mais a virtude dos fortes, mas o mérito dos suaves
O homem feminino e a mulher guerreira
O amor comunitário, sem ciúmes.
Dariam as mãos as moças que amo e brincariam de roda em volta de minha preferida
E um artesão criança esculpiria flores nos cabelos e um sorriso sincero no rosto
E de agora em diante Ghandi tava vivo pra sempre
E Jesus era hippie, Beethoven era roqueiro e Lenon era como nós
E se não desse certo, de agora em diante, ao menos teríamos tentando
 

Aos Filhos dos Hippies (Oswaldo Montenegro)

Onde andam seus pais
se cansaram da estrada?
hippies, ingênuos e nus,
a vocês não dizem nada?
O que pensam seus pais
da ilusão destroçada?
velhos sonhos azuis
derramados na calçada
Ainda cantam velhos blues
sobre seres com asas?
ou perderam na luz
o caminho de casa?
O que sentem seus pais
quando alguém acha graça
dos gentis samurais
artesões pobres na praça?
O que dói no seus pais
é a falta de esperança?
ou seu olho que vai
onde o deles não alcança?
 

Em Tempo (Oswaldo Montenegro/Mongol/ Raíque Mackau)

Mesmo que já fosse muito tarde
pus a sombra da minha vida
sobre as linhas de suas mãos
tantos desacertos e disfarces
coisas do meu coração
e engraçado é que eu não tinha medo
que você me revelasse
desenhasse os meus segredos
sobre as linhas de outras mãos
Mesmo que já fosse muito tarde
fiz silêncio em minha vida
quando a gente se calou
hoje evito ruas e olhares
cruzamentos que se andou
porque agora, eu juro, tenho medo
que em tormento pelos bares
você conte assim nos dedos
o que sonho e como sou
 

A Voz da Tela (Márcio Guimarães/Oswaldo Montenegro)

Voz
mais leve que o tempo e mais
que a bailarina pisando em cristais
entre o orvalho e a manhã
Sóis dez mil Picassos pintando a tela
a mãe da terra é a voz
das paixões, dos heróis
dos incêndios frios
Gás nossa palavra virou estrela
brilho, espelho veloz
da paixão que se prende à garganta
e canta e canta e vira
Voz dos homens que choram mais
velha druída que cala e diz "paz"
com olhos de cortesã
Faz de mil pedaços o amor inteiro
prisioneiro e algoz
nos porões, nas marés
nos umbrais vazios
Traz a prata que abre o baú do tempo
abre e zela por nós
com a paixão que se prende à garganta
e canta e canta e vira voz
 

O Vento Frio da Infância (Oswaldo Montenegro)

Pr'algumas pessoas o tempo tá no seu lugar
Pr'algumas pessoas é cedo
O vento da infância passou e não dá pra pegar
Os apaixonados têm medo
E o que ficou tão combinado não dá mais pra cumprir
Pr'alguns ainda é cedo
E o vento frio da infância ainda sopra nas estátuas
Pr'alguns ainda é cedo
 

Arranhão das Horas (Oswaldo Montenegro)

Redesenhando a neblina um vulto com uma guitarra na mão
Um caminhante noturno
Personagem da velha canção
Dois faróis cortam o escuro pede carona, mas em vão
O velho hippie andarilho, gasto sorve a escuridão
Como o orvalho no fogo como o gelo na paixão
A noite derrete o mundo, que escorreu e escapa da sua mão
Quantas bocas tem a noite? Calor de filho ou alçapão?
A velha ruga no rosto mais parece um arranhão
A traição dos profetas o novo mundo era ilusão
A maldição dos poetas insalubres restos da geração
Quantas chances tem a vida?
A vida é traço ou distração?
Como o orvalho no fogo
Como o gelo na paixão
 

Celeiro (Oswaldo Montenegro)

Um português de Lisboa viajava à toa e onde já se viu?
remando numa canoa parou, gente boa, cá no Brasil
E viu pelo ar lindos saltos de um povo a pedir um gol
e viu as canções de Elis nas estrelas a se espalhar
de puro arrepio num doido navio do céu andar
os tais vícios e os versos Vinícius sentiu brilhar
e um louco poeta ufanista de vista conhece num bar
e viu Pixinguinha compor as canções que o vento não dá
e todos os loucos profetas da cabala tropical
escrevem seus textos pretextos mais loucos pro carnaval
e viu a gaivota imitando Garrincha a driblar o mar
e viu o olhar de Cartola na bola da lua
as rosas não falam apenas exalam o que faltar
pra que sobre um louco celeiro pro mundo quando acabar
 

Sombra da Lua (José Alexandre/Oswaldo Montenegro)

Dança na sombra da lua
por trás pula atrás do luar
como pula o peixe quando entra numa
pula pula pula no mar
Dança na sombra da lua
tua lua pula e atua
como a tua lua muda de rua
quando tua rua vai despertar
Dança na sombra da lua
que a lua assim vai dançar
na tua sombra, na sombra da lua
que a rua tirou pra dançar
 

Cine Atlântida (Oswaldo Montenegro)

Não se esconde não, bailarina
A cor da piscina a gente por ver, terá
Não será da cor da piscina a porta do Cine Atlântida
A mais romântica do lugar
O tempo só dança e fascina
E cada menina acaba por começar
'inda que o bom senso não assine
A força da primitiva alegria criva de luz o ar
Há quem não se cruze na esquina
É coisa de sina, até sem querer será
Não há instrumento que afine
O riso do menininho que eu fui no ninho se enrolará
Magnetizante é a crina, o pelo de cima
E a gente calvagará
Se bailarinando se exprime a dança
Que se me cabe quem é que saberia parar?
 

Névoa Azul (Oswaldo Montenegro)

Atrás da névoa tinha luz azul
O silêncio era do tom da lua
tava frio pra fazer jus às casas sem ninguém
aonde foi a minha rua?
não sei se foi vazio ou não lembro
cada coisa que passou eu prendo
só não enxergo onde não estou mais
o que eu queria ter escapa entre minhas mãos gás
 

Éter no Cristal (Oswaldo Montenegro)

Havia um gosto bom
e o bem-te-vi contava as novidades
amoras de batom
boca de rio fugindo da cidade
ventos de Brasília (o som e éter no cristal)
asa de luz ao sol
ventos de Brasília (o som de éter do cristal)
asas de luz ao sol
 

Paço do Rosário (Oswaldo Montenegro) (poema: Raimundo Costa)

Beira de rio Paço do Rosário se avista ao longe
as ruas tortas vão se desenhando pelo arraial
beira de rio Paço do Rosário limitando a agreste
sua janela, velha doca de barrica e pau
água barrenta rolando sem pressa consumindo a terra
o pôr-do-sol avermelhado Paço do Rosário
na velha igreja já são 6 da tarde
o povo reza o terço Ave Maria, Mãe do Céu - cruz credo!
quem me mata é Deus...
Murmúrio lento, como prece aflita, vai descendo o rio
acompanhando o dia que se vai buscando o anoitecer
e anoitecendo, Paço do Rosário, quase silencia
a velha estátua caída na praça, mais um dia
velha rameira deixa a vela acesa por Virgem Maria
Ave Maria, Mãe do Céu - crus credo!
quem me mata é Deus

Poema:
"Num descampado vazio, de obscuro itinerário
pousada à beira de um rio dorme Paço do Rosário
Vive de sonho e promessa de um mercado portuário,
do lavar roupa conversa da lavoura e pecuária
O povo todo se apega aos pés do Santo Sacrário,
se amarra ao terço e se perde nos mistérios do rosário
no dia a dia lida, cada qual mais solitário
feito conversa comprida da gaiola com o canário."
 

Louca (Oswaldo Montenegro)

Clareira de capim queimado
Cheiro de coisa que ardeu
Resto de suor unido
Corpos abraçando o chão
Louca me mordendo a carne
Me trincando os dentes
Me roendo as forças
Me fazendo escravo
Do que eu mais possuo
O sol castigando
E eu desesperado
Te peço desculpas
Pelo corpo sujo
Pela mão barrenta
Com que te rasquei