Quando minha mãe sacou
que eu brincava em cima daquilo
ai, meu Deus!
aquilo era tudo o que pintasse
e eu pintava os sete por encomenda
Vinte mil disfarces
vinte mil mulheres eu quero ser
para vocês, estar com vocês
brincando do que for aquilo
que a gente combinar
Brincando na música
na dançarina que eu sempre quis te mostrar
em cima daquilo
que eu achei que a gente tem de mais bonito e secreto
Pérolas e paralelamente a lama do meu quintal
por que não?
em cima daquilo
que o maluco desse tempo deu pra gente brincar
É sempre a mesma história
se mudo ou não de lugar
é sempre a mesma memória
e não há do que lembrar
brincando em cima daquilo
no fundo eu quero mostrar
que o que eu não vi não tem grilo
só tem a ver, pois não há
 

Temos todos a mesma história
Várias ondas e um oceano
Vários fatos e uma memória
Vários jogos e um só engano
Temos todos as mesmas lendas
E eu achava que era sozinha
Um soneto e várias emendas
Sou mil versos e uma só linha
Temos todos o mesmo medo
Dez mil passos e uma só dança
Dez mil papos e um só segredo
Dez mil dores e uma esperança
Temos todos a mesma história
E hoje a tua passa a ser minha
Meu passado tua memória
E eu passei a não ser sozinha
 

Eu me vesti de cigana
Pra cantar o sol
Fiz comício e deu cana
Pra cantar o sol
Ah, que riso bacana
Pra cantar o sol
Virtuosa e profana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo amor que emanar, pra cantar o sol
Fui quem se dava e se dana
Pra cantar o sol
Quem se empolga e cigana
Pra cantar o sol
Quem teu hálito abana
Pra cantar o sol
Quem não mente, te engana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
Fiz do meu corpo cabana
Pra cantar o sol
Fiz de um ano semana
Pra cantar o sol
Fiz do amor porcelana
Pra cantar o sol
Fui cigarra e cigana
Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
Fui tua mão que te esgana
Pra cantar o sol
O que o brilho não empana
Pra cantar o sol
Meu amor tinha gana
De cantar o sol
Virgem santa e sacana Pra cantar o sol
Dança, dança, dança pra cantar o sol
Todo ao amor que emanar, pra cantar o sol
 

Eu amava como amava algum cantor
De qualquer clichê, de cabaré, de lua e flor
Eu sonhava como a feia na vitrine
Como carta que se assine em vão
Eu amava como amava um sonhador
Sem saber por quê e amava ter no coração
A certeza ventilada de poesia
De que o dia não amanhece não
Eu amava como amava um pescador
Que se encanta mais com a rede que com o mar
Eu amava como jamais poderia
Se soubesse como te contar
 

Hoje eu vou fazer barulho pela madrugada
E provar que a tristeza é simples convenção
Eu vou fazer fogueira com a tua gravata
Eu vou fazer misérias no teu coração
Hoje eu quero ver o alerta desobediente
Eu quero ver doente jogando pelada
O campo é na calçada, o gol na contramão
Hoje eu não quero ninguém descascando cebola
Eu quero que se dane a boa educação
Waldick Soriano tocando Beethoven
Que afinal de contas, não é cachorro, não