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Oswaldo Montenegro

Ficha Técnica:
Direção: Daniel Tendler
Direção de fotografia e câmera: Márcio Menezes
Montagem adicional: Bernardo Neder
Direção teatral e musical: Oswaldo Montenegro
Assistente de direção teatral: Madalena Salles
Produzido por Paulo Barreto e Daniel Tender
Arranjos: Oswaldo Montenegro
Engenheiro de som e mixagem: Alexandre Meu Rei 
 
Coreografias:
Oswaldo Montenegro
Hugo Rodas
Larissa Landim
Shirlene Paixão
Sérgio Landim
Luísa Pitta 
Textos: Oswaldo Montenegro
 
Companhia Mulungo:
Caio Miranda
Cibelle Hespanhol
Larissa Landim
Léo Pinheiro
Luísa Pitta
Renato Luciano
Rodrigo Sestrem
Shirlene Paixão
Verônica Bonfim
 
Edição das performances musicais:
Oswaldo Montenegro
Rodrigo Sestrem
Alexandre Meu Rei 

 

Léo Pinheiro
DVD Oswaldo Montenegro e Cia Mulungo (2012)

Tchucarramãe (Nação Primeira) (Ulysses Machado)

             Beijo na na
Beijo na nação pri
Beijo na nação primeira
Tchucarramãe nossa
 
Mãe nossa trouxe um índio novo
Numa estrela colorida
E brilhante que brilha
Mãe nossa fez de novo
I Juca Pirama gritar
Carne de branco é salgada
Mas a gente gosta
Bodoques, enxadas e flechas
Pirão de farinha
 
Mãe nossa trouxe apito
Agora a gente apita e grita
Cem quilômetros de terra
Crao, Xerente, Yanomami
Apinajé, Carajá
 
A gente agita a cabeleira
E grita e pula e canta
Mãe nossa deu a vida inteira
A gente pula e dança 
 
 

O Comedor de Calango e o gerente da Multinacional (Maurício Baia, Ana Bertani eTonho Gebara)

                      Na minha infância eu comia calango vivo

Comia calango seco, comia calango lá
Na minha infância eu comia calango vivo
Comia calango seco, comia calango lá
Era buchudo que nem baiacu virado
Meu joelho era inchado de eu tanto caminhar
Mas no que a fome me batia era cegueira
Eu saía a fazer poeira
Pra caçar calango lá
Bicho ligeiro anda virado na cachorra
Corre mais do que uma porra
Era impossível de alcançar
Era preciso um bocado de inteligênça
As armadilha e a paciênça
Pra mode a gente almoçar
Matava o bicho com uma pedrada na cabeça
E pendurava ele na cerca
Pra carne poder secar
E a carne seca eu comia com macaxeira
E espantava a mosca bicheira
Que queria o meu jantar
Mas êita que é agora que eu me espalho
Que plantaram um festifude
Bem no meio do sertão
Larguei a calangada do balaio
E me juntei à fila armada
Pra fazer a refeição
Big Calango com alface, queijo, pão com gergelim
Suco de xiquexique e eu sem capital
Pois é que agora nem caçar a gente pode
Porque foi privatizado pela multinacional
Acontece que o gerente do franxaize
Que contrata funcionário
Ouviu falar do meu norrau
E hoje eu ando caçando calango tanto
De frilance pago um lanche com o salário semanal
Deus me dê grana pra eu poder casar com Ana
Me dê poupança pra eu comprá-lhe as aliança
Sucesso pra eu me adaptar ao progresso
Caçando calango tanto, caçando calango lá
Caçando calango tanto, caçando calango lá. 

Canção da Feira (Oswaldo Montenegro e Mongol)

                              Compre aqui bom e barato

Vendo coisas de valor
Meu produto é a sua festa
Pague um riso adiantado
Dou-lhe um beijo se é bonita
Até vendo a prestação
Dou de graça uma risada
Teu sorriso é o meu sustento
 
Domingo é dia de festa
A feira já começou
A morte eu vendo a vista, moço
A vida a prestação
Meu preço é justo e correto
Minha medida é de lei
Só não lhe vendo esperança, moço
Pois isso você já tem
 
 

Um Índio (Caetano Veloso)

Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante
De uma estrela que virá numa velocidade estonteante
E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante
Depois de exterminada a última nação indígena
E o espírito dos pássaros das fontes de água límpida
Mais avançado que a mais avançada das mais avançadas das tecnologias
 
Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranquilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
Axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá
 
Um índio preservado em pleno corpo físico
Em todo sólido, todo gás e todo líquido
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto, em cheiro
Em sombra, em luz, em som magnífico
Num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico
Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio
E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer
Assim, de um modo explícito
 
E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico 
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto 
Quando terá sido o óbvio 
 

 

Jaya Radha Madhava (Lui Coimbra, sobre texto dos vedas indianos)

Jaya Radha Madhava Kunja-Bihari
Jaya Radha
Jaya Radha Madhava Kunja-Bihari
Jaya Radha ma
 

 

Escondido no Tempo (Oswaldo Montenegro)

Como o legado dos maias, menina
Como o que vem da maré
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
Como o segredo da cor turmalina
O fim da nação Aimoré
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
 
O inventor da gandaia, é tudo o que eu quero ser
O rei do rabo de arraia, menina, é tudo o que quero ser
E gente da tua laia, é tudo o que eu quero ser
E esse tomara que caia, menina, é tudo o que eu quero ser
 
Como o segredo do sol que ilumina 
Londres e a Praça da Sé
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
Como quem nasceu em Amaralina
Que traz o gingado no pé
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
 
O defensor da mulata é tudo o que eu quero ser
O nó que nunca desata, menina, é tudo o que eu quero ser
O Zumbi da tua mata é tudo o que eu quero ser
O percussionista de lata, menina, é tudo o que eu quero ser
 
Como o painel de Van Gogh e a retina
E o sangue azul da ralé
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
Como quem diz que me odeia e me anima
Qual o segredo da fé?
Tá escondido no tempo, menina
Aquilo que a gente é
O grão-vizir da Baixada é tudo o que eu quero ser
Demolidor da fachada, menina, é tudo o que eu quero ser
O doido da madrugada é tudo o que eu quero ser
Um bicho estranho ou nada, menina, é tudo o que eu quero ser
 

 

O Gago (Oswaldo Montenegro)

É como gago que não parecia gago
Como a gente ria 
Meio gargalhando gago
 
Era uma vitrine, os olhos da menina,
A gente ria muito no quintal
E é feitiçaria como a gente ria
Gargalhando do bem e do mal
 

Cuitelinho (Folclore do Estado Mato Grosso - autor desconhecido)

Cheguei na beira do porto
Onde as ondas se espaia
As garça dão meia volta
E senta na beira da praia
E o cuitelinho não gosta
Que o botão de rosa caia, ai, ai, ai
 
Quando eu vim da minha terra
Despedi da parentaia
Eu entrei em Mato Grosso
Dei em terras paraguaia
Lá tinha revolução
Enfrentei fortes bataia, ai, ai
 
A tua saudade corta
Como um aço de navaia
O coração fica aflito
Bate uma, a outra faia
E os óio se enche d'água
Que até a vista se atrapaia 
 

 

Texto: Carta Número Um (Oswaldo Montenegro)

Mãe, cheguei aqui no Rio.
Aqui ninguém diz não, mãe
Aqui, com certeza quer dizer talvez 
Quem sabe, quer dizer não vai dá
E provavelmente, quer dizer nunca
E eu, mãe, provavelmente, um dia ainda vou entender o mundo!
 

 

Gemedeira (Otacílio Batista)

Eu gemo no meu baião
Nesse momento profundo
Minha mãe gemeu por mim
Para botar-me no mundo
E eu não gemo por ela
Ai ai, ui ui,
Porque sou um vagabundo
 
Papai foi homem profundo
Se gemeu não foi aqui
Ele gemeu com mamãe
E outra pessoa, que eu vi
E do gemido dos dois
Ai ai, ui ui,
Olha eu cantando aqui
 
Eu para cantar nasci
Vivo gemendo também
Quando a cantoria vai
É que a gemedeira vem
E aqui na face da Terra
Ai ai, ui ui,
Sem gemer não há ninguém
 
Quase todo mundo tem
Um gemido que implora
Geme o sujeito casado
Às vezes fora de hora
Geme no dia que casa
Ai ai, ui ui,
E quando a mulher vai embora
 

 

Texto: O Mineiro Encontra o Baiano (Oswaldo Montenegro)

Baiano – Lá na Bahia tem acarajé. Em Minas tem o quê?

Mineiro – Pão de queijo. E tem é muito pão de queijo. Fora que tem mineira também.
Baiano – Mineira tem na Bahia. Tem pouca, mas baiana tem muita.
Mineiro – Imagino! Clube da Esquina num deve ter não, né? Beto Guedes,
                  Milton Nascimento...
Baiano – Isto tem pouco. Mas tem muito Gilberto Gil, Castro Alves, 
                 Caetano, Oludum...
Mineiro – Tem marketing!
Baiano – Ahn?!?
Mineiro – Marketing: baiano se promove, né?
Baiano – A gente manda as notícias pro mar. Tem mar em Minas?
Mineiro – Lagoa. Tem muita lagoa.
Baiano – Dá pra surfar?
Mineiro – Pra pescar, dá. Tá implicando com Minas?
Baiano – Não! Adoro Minas!
Mineiro – Eu adoro a Bahia!
Baiano – Mas meu sonho é morar no Rio.
Mineiro – O meu também.
 

Repente em Mourão dos Sete Pés Trocados

Oswaldo - Coitado do Léo, coitado, tá pensando que é assim...
Léo - Montenegro, sai de lado com esse trocado ruim!
Oswaldo - Tua sala na cozinha, sua cara é de mocinha, não vai prestar para mim.
Léo - Colega, não diga assim, que eu lhe dou a resposta.
Oswaldo - Montenegro vai ao fim, sei que você já não gosta.
Léo - Você tomou minha rima, porém outra se aproxima pra montar nas suas costas.
Oswaldo - Fala, goiano pretencioso! O seu fogo não me tosta, tu a lama não me mela!
Léo - Eu sei do que você gosta, eu quebro sua canela.
Oswaldo - Mas os teus versos se some, pois minha cara é de homem, tua cara é de cadela.
Léo - Sua cantiga singela faz Cristo perde a fé.
Oswaldo - Você não me atropela, que vou pisar no seu pé!
Léo - Seu jeito é de lobisomem, sua cara é de homem, mas o seu corpo não é.
Oswaldo - Você quer ser um Pelé, mas não sabe jogar bola.
Léo - Você quer ser um Mané, porém no campo se atola.
Oswaldo - O repente me pertence, você morre mas não vence com dinheiro na viola.
 

 

Discurso Político (Oswaldo Montenegro)

Eu to aqui pra firmar um compromisso com vocês.
Prometo, assim que for eleito, não roubar mais que o necessário
Até porque eu acho um absurdo essas pessoas que são eleitas pelo povo roubarem exorbitantemente.
Eu tenho visto Prefeito roubando como Governador rouba!
Governador roubando como Presidente da República rouba!
Agora onde já se viu, meu amigo, um país como esse, em que um Prefeito se acha no direito de roubar como Governador rouba?
A hierarquia tá aí pra isso, meu amigo! É um direito seu!
Minha única alternativa é criar a escola do roubo, pra ver se nego rouba direito!
 
Avacalhai, brasileiros, avacalhemos!
Como eles avacalham de nós no Congresso e nós gostemos.
 

 

Severina Cooper (It’s Not Mole, Não) (Accioly Neto)

Eu vou na feira comprá uma cascavé
Enchê os dedo de ané e aprendê a dançá rock
Eu vou borrá os óio todo de carvão
Amorcegá um caminhão e vou batê em Nova York
Chegando lá compro uma rôpa de cetim
Dessas que rebrilha assim que nem galinha pedrez
No fim do ano volto na grana montado
Snob e afrescalhado machucando no inglês
It´s not mole, não
Don´t have condição
Um roli roice no estacionamento
No lugar desse jumento
Que me fez passá vexame
Prá esquecê a minha vida de miséria
Vou passá as minhas féria
Lá na praia de Miami
Com uma galega de dois metro da altura
Daquelas que tira côco sem nem precisá de vara
O punk rock tá me oferecendo a chance
Mas antes que ele se canse
Eu vô é metendo a cara
E quando eu for me apresentá na discoteque
Vou mostrá pr'esses moleque
Que matuto é que é o bão
Eu que tentei aqui na terra tantos anos
Agora o americano é que vai curtir meu som
Depois que a gente vai embora pro estrangeiro
Que se amunta no dinheiro, o negócio é chalerá
Eu só volto aqui na terra pra curtir minhas estafa
Que nem diz Frank Sinatra: não vou dá colher de chá
 

 

Avestruz (Vinheta) (Rodrigo Sestrem) (Cia Mulungo)

Avestruz 

Pode Por a Culpa em Mim (Oswaldo Montenegro)

E não finge que me ama
E que madeira ama cupim 
Vê se me poupa desse drama
E vade retro, coisa ruim!
E se a coisa desandar
E se alguém te perguntar
Pode por a culpa em mim
 
A gente é junto e separado            
Igual piscina e trampolim
Você fala acariocado
Me enganando que é latim
Mas se o medo do momento
É o global aquecimento
Pode por a culpa em mim
 
E se a esquerda no poder
Desandou teu Zepelim
E se o medo de perder
Azedou o teu quindim
E se o rock hoje é cafona
Se a mocinha hoje é matrona
Pode por a culpa em mim
 
Se você já descobriu
Publicado num pasquim
Que só mesmo no Brasil
Comandante faz motim
O sucesso é quase um crime
E a mentira é o que se imprime 
Pode por a culpa em mim
 
E se a espada revoltada
Empunhar o espadachim
E se a água alucinada
Resolver beber o rim
E se o amor que a gente teve
Se atirou do céu sem rede
Pode por a culpa em mim
 

 

Peixinho (Léo Pinheiro e Emílio Dantas - Cia Mulungo)

Às vezes eu queria ser um peixinho
Pra nadar na caneca do Jô,
E às vezes não
 

 

O Artista e o Santo (Ulysses Machado) / Quem Diria? (Oswaldo Montenegro)

Tudo o que o artista fala é engraçado
O artista é um santo disfarçado
Daquilo que o santo não gosta de ser
Tudo o que artista faz é engraçado
O artista é um bichinho danado
Que o santo não gosta mais quer ser
Santo é forte, carrega nas costas
O artista carrega onde der pra carregar
Santo é forte, garante na morte
O artista de sorte garante a do santo
Santo é forte, precisa de reza
O artista que não reza não vai lá
E não me apurrinha que o santo é capeta
O artista é porreta e eu quero virar
E se o artista rebola é engraçado
Santo não rebola, que o santo é danado
Santo é diferente, santo é displicente
Santo é do pau oco, santo é do rosário
O espírito é santo, santo é necessário
E o que a santa trindade tem de eleitorado
E se o atista rebola
Tudo que o artista fala é engraçado
E o santo coitado faz pela metade
Que o santo é de todos o maior responsável
Pelo bom controle da natalidade
E o milagre do filho abandonado
É o mistério da santa castidade 
Tudo que o artista fala é engraçado
O santo leva sério e convence ao diabo
Deus está presente na ausência do santo
Deus foi o primeiro a ser canonizado
E se o artista repete deus castiga
E se pede perdão tá perdoado
 

 

Quem Diria (Oswaldo Montenegro)

Seu moço repare ao seu lado
Se o mundo caminha correto
Mas não olhe tão descuidado
Bobeia eu logo lhe espeto
Que a vida não tá pra brinquedo
Um sopro já faz ventania
Valente é quem diz que tem medo
Bom porto não traz calmaria
Não faça pergunta sem nexo
Nem vá responder se não sabe
Que o grande segredo do sexo
É fazer caber se não cabe
E nisso resume-se a vida
No poder fazer quem não pode
No poder amar quem lhe agride
No poder matar quem lhe acode
Enquanto um fala besteira
O outro só filosofa
Enquanto um pula a fogueira
O outro rega a farofa
Enquanto um pula pra briga
O outro pula pros cantos
Enquanto um pede guarida
O outro prossegue aos trancos
Enquanto um sobe no muro
O outro apela pros santos
A gente ensaia pra burro
E o povo vê Sílvio Santos
Enquanto um cede à loucura
O outro cede à ganância
O que pro pobre é frescura
Pro rico é trauma de infância
 

 

Retrato (Oswaldo Montenegro)

Eu grito, sou vento, poeira                                    
Sou pó, ventania
Gramado sem gente   
Covarde, valente
Soldado ou tenente  
Depende da hora  
O que eu cismo de ser
Enfim, sou a mesma palavra   
Num outro sentido
Mero menestrel das angústias urbanas
O louco Quixote                                                                                           
Da grande cidade, da realidade
Moinho a vencer
 

 

Canção da Lavoura (Oswaldo Montenegro e Mongol)

Eh, eh, eh, sua bastante pra regar a plantação
Eh, Eh bate a enxada como bate o coração
 
Amassa a terra, bate forte com a enxada
Põe semente, tira a terra
Põe sal grosso, que é pro santo ajudá
 

 

Lenda da Lavadeira (Oswaldo Montenegro)

Lavadeira que já se benzeu
Lavadeira e seus orixás
Pé descalço, ri meio sem jeito
E diz que a vida é dura, mas dá pra levar
 
Lavadeira diz que já sonhou
Com o conforto que o dinheiro dá
Mas sorri vendo seu filho forte
E diz que o que não teve ele vai conquistar
 
Eh lavadeira, passo lento, pé descalço, volta ao seu lugar 
 

 

A Tua Festa (Ulysses Machado)

Your mama say yeah, your papa say no!
 
Quem dera estar na tua festa, mama!
Houve essa música preta e me chama                          
Bophuthatswana, sorriso de fada
Tua bunda tão musculosa, lábios de almofada
Gueto de Soweto, agora um caminho
Já foi tão cruel, sujo, mau
Mas virou nosso ninho
Soninho, soninho!
 
Last night I had a dream about you I saw you in a run,
Me saw that noisy people kicking you under the sun
Though you were me best friend, bro, me could not save your soul, bro
Me called you 'mother fucker!', while the crowd'd began to stuck and fuck you
Your mama say yeah, your papa say no!
Even if you ask me for help I could not listened ya
You can get the kiss of life but you can depend on the people too, yo
They' ve cut your bals and suck your blood and than they play the tango
 

 

Pra Longe do Paranoá (Oswaldo Montenegro

Numa tarde quente eu fui-me embora de Brasília
Num submarino do lago Paranoá
Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro
Namorando Madalena na beira do mar
 
Qualquer dia, mãe, você vai ter uma surpresa
Vendo na TV meu peito quase arrebentar
Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro
Namorando Madalena na beira do mar
 
Quem quiser que faça o velho jogo da política
Na sifilítica maneira de pensar
Quero ser estrela lá no Rio de Janeiro
Namorando Madalena na beira do mar
 
Eu tenho o coração vermelho
E o que eu canto é o espelho do que se passa por lá
 

 

De Volta Pro Paranoá (Oswaldo Montenegro, José Alexandre e Mongol)

Manhê, êh mãe
 A coisa é como a gente combinou, mas voltei
 É complicada
 Madá manda me buscar
 Manhê, êh mãe
 Gostei de ser estrela, mas cansei de brincar
 Submarino volta pro Paranoá
 E to  levando o Mongol e toda clave de sol
 Lembra mulher grávida
 Minha cabeça ta grávida, ávida para inventar
 E Madalena também tomou esse trem
 Veja você, Brasília
 Cantei Bandolins, mas sempre pensando em voltar
 Manhê, êh mãe
 A lúcida visão do que se quer fica atrás
 Da doida brincadeira
 Hoje eu quero é mais
 Êh mãe, manhê,
 O Zé gravou um disco e ainda é bom rapaz
 E cada sonho eu ponho onde não cabe mais 
 

 

Astrologia (Mário Quintana e Lui Coimbra)

Minha estrela não é a de Belém
Aqui parada guarda o peregrino
Sem importar-se com qualquer destino
A minha estrela vai seguindo além
Meu Deus, o que é que esse menino tem?
Já suspeitavam desde eu pequenino
O que eu tenho, o que tenho é uma estrela em desatino
E nos desentendemos muito bem.
 

 

Verde (Oswaldo Montenegro e Mongol) / Poema Ilha (Oswaldo Montenegro)

Verde, verde, folha desabada 
Doida cor sem ter qualquer razão de ser 
Mágica das coisas, das verdes coisas 
Dos olhos verdes de quem vê 
Hortelã dos chás, dos beijos verdes 
Doida flor sem ter qualquer razão de ser 
Lógica das coisas, das novas coisas 
Dos olhos verdes de quem vê 
Doce maçã da saúde e água 
Doido amor sem ter qualquer razão de ser 
Ávida das moças, das novas moças 
Dos olhos verdes de quem vê 
Como rã saltando é  folha verde 
Doido acordo tem qualquer razão de ser 
Plástica dos olhos, dos verdes olhos 
Dos olhos verdes de quem vê 
 
Texto: Ilha (Oswaldo Montenegro)
Ilha não é só  um pedaço de terra cercado de água por tudo quanto é lado.
Ilha é qualquer coisa que se desprendeu de qualquer continente.
Por exemplo: um garoto tímido, abandonado pelos amigos no recreio, é uma ilha.
Um velho que esperou a visita dos netos no Natal e não apareceu ninguém, é uma ilha.
Tudo na gente que não morreu, cercado por tudo que mataram, é uma ilha.
Até a lágrima é uma ilha, deslizando no oceano da cara.
 

 

Oxum, Olhai por Nós (Oswaldo Montenegro)

Quando os meninos do Brasil
Olharem pro Brasil com medo do quem vem depois
Oxum, olhai por nós!
Oxum, olhai por nós!
Quando os meninos do Brasil
Olharem pro Brasil e aí soltarem sua voz
Oxum, olhai por nós!
Oxum, olhai por nós!
 

 

Sobradinho (Sá e Guarabira)

O homem chega e já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato   
Que dizia que o sertão ia alagar
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão           
Vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão
Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Adeus Pilão Arcado, vem o rio te engolir
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira o Gaiola vai subir
Vai ter barragem no salto Sobradinho
E o povo vai-se embora com medo de se afogar 
Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Pilão Arcado, Sobradinho
Adeus, adeus
 

 

Texto: Deus é Um Negro Deitado de Costas (Oswaldo Montenegro)

Nem toda tristeza da vida é escura

A caça no escuro se salva do tiro
A noite é profunda e cintila de pontos
É negra a virtude dos feitos bravios
É quase profana a palavra e o meu grito
Mas é bela a cratera no meio da selva
E o que eu não sei, mais que sei, acredito
O som do atabaque é o relógio da vida
O sol vira preto de tanta energia
É sempre no escuro que eu ouço as histórias
Teu pelo que eu gosto é negro e macio
Os filhos dos homens são feitos sem luz
Veludo de sombra, a noite é meu ninho
E o negro emoldura o Cruzeiro do Sul
E se o olho é azul e faz vista de dia
É o negro do olho que enxerga esse azul
 
Deus é um negro deitado de costas
E pingam estrelas dos olhos de luz
Deus é um negro deitado de costas
Escorrem-lhe amores sobre os ombros nus
Deus é um negro deitado de costas
Armou os planetas em forma de cruz
Deus é um negro deitado de costas
E os buracos do espaço, são seus olhos azuis
 

Paço do Rosário (Oswaldo Montenegro e Raique Macau)

Eh, beira de rio                                                                     
Paço do Rosário se avista ao longe
As ruas tortas vão se desenhando pelo arraial
Eh, beira de rio                                                                                        
Paço do Rosário limitando o agreste
Sua janela, sua velha doca de barrica e pau
Eh, água barrenta rolando sem pressa, consumindo a terra
O pôr-do-sol avermelhando Paço do Rosário
Eh, na velha igreja já são seis da tarde
O povo reza o terço                                                                              
Ave Maria! Mãe do céu! Cruz credo!
Quem me mata é Deus!
Eh, murmúrio lento                                                                           
 Como prece aflita, vai descendo o rio
 Acompanhando o dia que se vai, buscando o anoitecer
 E anoitecendo, Paço do Rosário quase silencia
 A velha estátua caída na praça, mais um dia
 Eh, velha rameira deixa a vela acesa por Virgem Maria
 Ave Maria! Mãe do céu! Cruz credo!
 Quem me mata é Deus!
 

 

Gírias do Norte (Jacinto Silva e Onildo Almeida)

O Zé do Brejo quando se casariô
Ele me convidariô
Pruma quadrilha eu marcariá
Marcariei uma quadrilha ritimada
Fui até de madrugada
Todo mundo cum seu pariá
Alavantuí, chã-de-dama anarrariê
Cantei côco pra valê
Todo mundo cum seu pariá
Brincarei na festa de casamento
Da filha de Pedro Bento
Na fazenda Caiucariá
O Zé do Brejo noivo muito animado
Logo depois de casado
Me pediu para cantariá
Alavantiú...
Me perguntam porque é que eu canto assim
Eu então lhes respondi
Que a minha língua não dariá
Esse negócio de dizer alavantú
Chã-de-dama anarriê
Posso me atrapalhariá
Alavantiú...
Agora eu vou cantar o coco sincopado
É de banda que nem de lado
Vou ver se a minha língua dá
A minha língua nesse coco não bambeia
O coco é sincopado eu vou sincopar
A minha língua língua nesse coco não bambeia
O coco é sincopado eu vou sincopar
Eu já cantei coco trocado e quadrão
Só falta o coco sincopado eu vou sincopar 
Por isso eu vou cantando o coco e sincopando
Se o coco é sincopado o cantor tem que sincopar
Olha esse coco é todo sincopado
É um nó cego e bem dado
Para o cantor desatar
 
Alavantiú...
 
Olha é 15 é 14 é 13 é 12 é 11 é 10 é 9  
E só faz lama quando chove 
E enche o rio um grama um passo preto
É um anum que no bico tem um vinco
É 8 é 7 é 6 é 5 é 4 é 3 é 2 é 1
Era um papo dentro do sapo 
Sapo dentro do saco 
Saco com o sapo dentro, o bicho!!!
 
Alavantiú...
 

País da Mistura (Oswaldo Montenegro)

Dentro da selva uma estrela
Na Pindorama reluz
Computador no quilombo
Cristo liberto da cruz
  
Canta o país da mistura
Reza a nação pela paz
Som de atabaques na noite
Barcos libertos do cais
 
Viva o país vira lata
Trem futurista do amor
DNA de mulata
Caleidoscópio de cor
 
Dança Tupã com São Jorge
Dança Iansã com Oxalá
Dança Ogum com Rabino
Dança o ateu com Alá
 
O presidente requebra
O padre dança na rua
O namorado assovia
Doido olhando pra lua
 
Tropicalismo de festa
Lógica de carnaval
Olha pro mundo e empresta
Sua alegria total
 

 

Goyarece Mulungo (Oswaldo Montenegro)

 Quem não tem amor do lado

Não é de lugar nenhum
Oi, não é de lugar nenhum (vira poeira)
Não é de lugar nenhum (vira poeira)
Quem vai ser abençoado
Hoje é Logum Edé e Ogum
Hoje é Logum Edé e Ogum (vira poeira)  
Hoje é Logum Edé e Ogum (vira poeira)
A moça estranha do sobrado
Põe feitiço em qualquer um
Oi, põe feitiço em qualquer um (vira poeira)
Põe feitiço em qualquer um (vira poeira)
O viajante aqui do lado
Ta calado ele é de Oxum
Se ta calado ele é de Oxum, (vira poeira)
Se ta calado ele é de Oxum (vira poeira)
Olha o perfume do passado
No gingado de Olodum
Olha o gingado do Olodum (vira poeira)
Olha o gingado de Olodum (vira poeira)
E misturou tá misturado
Até romã com girimum
Até romã com girimum (vira poeira)            
Até romã com girimum (vira poeira)
O que nasceu tá condenado
Até o homem incomum (vira poeira)
Até o homem incomum (vira poeira)
Toda palavra de guru (vira poeira)
Toda palavra de guru (vira poeira)
Goyarecê mulungo
E quem não tem amor do lado
Não é de lugar nenhum
Goyarecê
Goyarecê mulungo