Herói (Pelos Versos de Raíque) (Oswaldo Montenegro)
Quem pagou seu quinhão
Tem direito a fugir
Para frente ou pra traição
Se deixou ir
Quem levou pela mão
A mão de alguém porque quis
Como mãe, como paixão
Vai ser feliz
Quem andou no escuro
Vai ter faro e ouvir melhor
Tem direito ao descanso
Vai ter férias da dor
Quem gritou pelos bares
Que amava (e amar dói)
Nos livrou do bom senso
Nos salvou do juízo
É um herói
Todo encontro é cordão
Nos ligando ao que vai
Todo encontro é vagão
De um trem que sai
Quem gritou pelos bares
Que amava (e amar dói)
Nos livrou do bom-senso
Nos salvou do juízo
É um herói
Ilariô (Toada Para Madalena) (Oswaldo Montenegro e Mongol)
Canta que "Ilariô"
"Ilariô, Ilariô"
E a lua fez uma bacia de prata no mar
Vai, vento, e diz pra minha morena
Que a dor no meu peito não quer passar
Canta que "Ilariô"
"Ilariô, Ilariô"
Nós na beira no mar
E a lua fez uma bacia de prata no mar
Vai, vento, e diz à minha morena
Que a dor no meu peito não quer passar
Conta, vento, a ela, da nossa alegria
Canta e ri da nossa toada
Viaja, vento, e sopra a melodia
Que é pra ela, é dela nossa gargalhada
"Ilariô, Ilariô"
E a lua fez uma bacia de prata no mar
Vai, vento, e diz pra minha morena
Que a dor no meu peito não quer passar
Prepara a viola, separa a viola
Espera a morena cantando
O homem que eu sou vale nada
Mas o homem que eu fui ta voltando
Essa menina, essa menina
Mistura de mulher, canção e flor
Que morde as unhas por dentro
Que mata e morre de amor
Jardins e Quintais (Música: Sérgio Habibe / Letra: Raíque Mackáu)
Abre minha guarda no espanto
Com o susto que seja
Que nem vento no palmeiral
Pra que eu desperte do sonho
Que traz as lembranças da terra natal toda vez
Pra que eu despenque dos cantos
Qual mais um azulejo colonial português
Vem, arrebenta o acalanto
Que guarda minha noite
E protege os jardins e quintais
Salta do fundo do escuro
Por cima dos muros, telhados, mirantes, portais
Rasga e arregala a cancela, escancara a janela
E guarda esse sonho pras noites de paz
A Festa (Pra Quem Quer Se Alegrar) (Música: Oswaldo Montenegro e Mongol / Letra: Oswaldo Montenegro)
Seja festa
Pro povo em romaria
A quem grita gol e atesta a vitória da alegria
A quem nunca teve e empresta
A quem anda e assovia
A quem falta e a quem resta
Pra quem quer se alegrar
Seja festa
A quem venceu mais um dia
A quem dorme e a quem cansa
A quem ouve a melodia
Pra quem namora e dança
Pra quem vai ter e adia
Pra quem recua e avança
Pra quem quer se alegrar
Seja festa
A quem largou velharia
A quem muda de endereço
A quem ama poesia
A quem já aferiu o preço
A quem quase desistia
A quem já se olhou do avesso
Pra quem quer se alegrar
Seja festa
A quem ama bateria
A quem toca flauta e encanta
Quem nunca encantaria
A quem já não cabe e é tanto que já não caberia
A quem ama bicho e planta
Pra quem quer se alegrar
Festa da paz a dança do sofredor, ai
Canta mais que cantar, ver
Chama, chama, chama, chama
Queima a dor
Começar, recomeçar
Seja festa
Pra quem vem da boemia
Pra quem olha o mundo e canta o prazer à revelia
Pra quem liga o rádio e espanta a tristeza e a quem varia
A quem velho e a quem criança
A quem quer se alegrar
Tiro Cruzado (Oswaldo Montenegro)
Eu tava andando numa estrada vermelha
Era no meio do mundo, interior de Goiás
Pedi pra dormir num celeiro vazio
E aí me disseram: "Cuidado, rapaz
Aí mora o louco fantasma de Antônio
Era líder do povo e brigou com o patrão
Na hora do pau, deixaram sozinho
Perdeu o emprego e ainda foi pra prisão
Depois ficou doido e gritava: "Covarde!
Não teve só um pra vir me acudir
Mas quando eu morrer eu volto da morte
Atazano vocês e ainda morro de rir"
Na hora do aperto me deixa de lado
É tiro cruzado (olha eu na fogueira!)
Fala besteira (é o teu medo empenhado)
E o teu pesadelo é que eu não dou bandeira
E passa rasteira, eu que tome cuidado
Senão caio morto no meio da rua
E não vai haver quem pare pra acudir
Sai do meu lado (olha essa confiança!)
Quem entra na dança não pode sair
O olho no olho reflete sem erro
Quem acusa os "outro" e não sabe de si
E passa rasteira, eu que tome cuidado
Senão caio morto no meio da rua
E não vai haver quem pare pra acudir
Caso eu morresse, voltava de novo
Te atazanava e morria de rir
Estrada Nova (Música: Mongol / Letra: Oswaldo Montenegro)
Eu conheço o medo de ir embora
Não saber o que fazer com a mão
Gritar pro mundo e saber
Que o mundo não presta atenção
Eu conheço o medo de ir embora
Embora não pareça, a dor vai passar
Lembra se puder
Se não der, esqueça
De algum jeito vai passar
O sol já nasceu na estrada nova
E mesmo que eu impeça, ele vai brilhar
Lembra se puder
Se não der esqueça
De algum jeito vai passar
Eu conheço o medo de ir embora
O futuro agarra a sua mão
Será que é o trem que passou?
Ou passou quem fica na estação?
Eu conheço o medo de ir embora
E nada que interessa se pode guardar
Lembra se puder
Se não der esqueça
De algum jeito vai passar
Uma Nova Cidade (Mongol)
Quantas saudades ficaram das terras de Minas
Dessas mulheres que guardam o olhar das meninas
Na madrugada luzia uma troca de olhares
Os nossos medos ficaram nos becos, nos bares
Doeu escalar montanhas no sol dia a dia
Doeu abafar a paixão quando se mais queria
A dor e o prazer de inventar toda a felicidade
A dor e o prazer de invadir uma nova cidade
Sal da Terra (Raíque Mackáu)
Cedo ainda de manhã a voz do cego se ouvia
Beijando um por um de casa, cantava sempre um bom dia
Bom dia moça apressada, bom dia Dona Maria
Quem pára pra ouvir o cego sai fazendo poesia
Bom dia patrão, senhora, bom dia Dona Luzia
Quem não nega esmola a cego tem Jesus por garantia
Tu que és sal da terra
Ouve só meu grito
Esfolado e velho
Me abençoa o pão
Que passou de anteontem
Pelo sol seguinte
Pra que ainda hoje
Possa se almoçar
E me deu trabalho
Me tornou rameira
Me afrouxou as "cadeira"
E apertou meu laço
E me fez de tolo
Prosador e artista
Cantador de verso
Desse meu sertão
Que passou de anteontem
Pelo sol seguinte
Pra que ao menos hoje
Possa ter a paz
Quando dava seis da tarde, parando o canto ele ouvia
Os sinos roucos da praça e rezava a Ave Maria
Bom dia moça apressada, bom dia Dona Luzia
Quem pára pra ouvir o cego sai fazendo poesia
Bom dia patrão, senhora, bom dia Dona Maria
Quem não nega esmola a cego tem Jesus por garantia
A Dança da Cor (Oswaldo Montenegro)
De manhã fugi da escola
Todo o bom humor que eu guardei numa sacola
Hoje estava ao sol
E o sol era uma bola deslizando
Apareça a qualquer hora com cara de amor
Me pergunte a cor da amora
Seja como for
Apareça e vá embora
Como toda a cor que há na aurora, amor
Cada cor tem sua hora, sem nenhum pudor
Dança, dança e vá embora
Vá pra onde for
Sempre ficará de fora do que iluminou
Como a cor do céu adora brincar de outra cor
Como o olhar de quem namora ou de um grande ator
Dança a luz em fauna e flora:
A dança da cor
Sabe, Menino (Ulysses Machado)
Somos nós dois
Os primeiros do primeiro tempo
Do primeiro instante, tão lindo esse instante
Que eu guardei no peito e por dentro
Sabe, menino, é tanta promessa, só vendo
Mas tendo cuidado, que dói na garganta
Mas fere é no peito e por dentro
Somo nós dois
E o pigarro do trago mais rouco
Do mundo mais louco
Dos "ai, quem me dera!"
Dos fins e dois meios, do intento
Sabe, menino
Enquanto existiu o batente batendo na gente
Mostrando que a vida/briga é ser pedra e semente
Nós fomos
É tanta promessa, só vendo
Mas tendo cuidado que dói na garganta
Mas fere é no peito e por dentro
Estradas e Bandeiras (Vinheta) (Raíque Mackáu)
Um homem, uma estrada, um cavalo
Seguindo no escuro da noite
Os sinais do Cruzeiro do Sul
Destino de um homem só
E de tantos mais
Que pegaram essas paradas
Sem a agonia de ir longe ou perto
E dá-lhe pó