Entre uma Balada e um Blues (Oswaldo Montenegro)
Quando os bichos dançam com as fadas
Entre uma balada e um blues
A paixão cai de madrugada
Lá do céu escorrem azuis
Pingam luas, gotas aladas
Entre uma balada e um blues
No repouso das cavalgadas
Quando a noite abranda essa luz
O calor das mãos apertadas
Reconforta a mão que conduz um
O amor dos contos de fadas
Entre uma balada e um blues
João, o Vigilante (Oswaldo Montenegro)
Ele vive saltando, João Vigilante
Pulando os arames farpados
Buscando tesouros guardados
Querendo brincar com você
Pela partitura do velho soneto
Ou mudando de tom, viver!
Por menos que fosse pela maravilha
Do beijo molhado, do sangue apressado
A correr sobre o teu coração
Rapunzel (Oswaldo Montenegro)
De toda janela , de toda flor
Retirar o que for demais, o que sobra
A trança excessiva, lança!!
Quem vai pegar?
Por todo cabelo, por onde for pra chegar
A paixão escala a parede
É dança sem rede, lança!!
Quem vai pegar?
Canta, canta
Quem vem lá?
Canta,canta!!
Quem vem lá?
A Fada Azul (Oswaldo Montenegro)
Ela dança as fases da lua
Tece vento e o ar rodopia
Põe no colo os bichos das ruas
Põe no chão quem quer correria
Põe as mãos de alguém entre as suas
E é o nascer de um sol, mais um dia
Do aroma rosa da arte
Ela extrai a cor da alegria
Do lilás do olhar de quem parte
Faz o azul de quem ficaria
Do vermelho ardor do estandarte
O nascer de um sol, mais um dia
Tem a solidão do poeta
A paixão da chuva tardia
Escultora da linha reta
Que a luz percorre e esta via
Salta do seu olho, é uma seta
O nascer do sol, mais um dia
São brilhos de estrelas na perna
E a noite que a estrela anuncia
A paixão é estranha caverna
Quem tem medo e amor já sabia
Uma noite nunca é eterna
É o nascer do sol, mais um dia
Ela pisa as ruas do tempo
Já foi louca, princesa e Maria
Faz de azul mais que cor, sentimento
Mina d'água, azul, poesia
Faz soar as rimas que invento
E é o nascer do sol, mais um dia
O Rap da Bruxa (Oswaldo Montenegro)
Escaramuça, tocaia, armadilha
Um resto de Féretro, olhar de Fellini
Gota de sangue, xixi de morcego
Bola de ferro de quebrar vitrine
Uivo de lobo, sorriso de esguelha
Papo de chato que nunca define
Asa de cobra, inveja, mentira
Dor de cabeça, motor de Gordini
Pelo de rato, espelho de feia
Olho de pobre vendo limusine
Pele de velho, malária, mentira
Pó de doença que ninguém previne
Rabo de monstro, de língua de sapo
Olho de moça sozinha no cine
Cara de tédio de algum funcionário
Fone quebrado fora da cabine
Canção de Ninar Gente Pequena (Oswaldo Montenegro)
Dorme, dorme menininha
Eu estou aqui
Vá sonhar, ainda é tempo, menininha
Vá, vá dormir
Sonha sonhos cor de rosa
Passeia no céu e no mar
Apanha o mundo no teu sonho, menininha
E não deixa ninguém roubar
Olha, não reparta com ninguém
Os teus sonhos de menina
Dorme, dorme
Dorme e sonha menininha
Sonha, é tempo ainda
Canção do Lobo (Petulante) (Oswaldo Montenegro)
Você me disse que eu sou petulante, né?
Acho que sou sim, viu?
Como a água que desce a cachoeira
E não pergunta se pode passar
Você me disse que meu olho é duro como faca
Acho que é sim, viu?
Como é duro o tronco da mangueira
Onde você precisa se encostar
Você me disse que eu destruo sempre
A sua mais romântica ilusão
E destruo sempre com minha palavra
O que me incomodou
Acho que é sim
Como fere e faz barulho o bicho que se machucou
Como fere e faz barulho o bicho que se machucou
Canção do Gigante (Oswaldo Montenegro)
Grande, big, enorme, gigante, sem jeito
Mal feito, gigante sem tato, mulato
Gigante, enorme, mal feito, bonzinho, bacana
Sem tato nem jeito
Meu riso é grande, não cabe em mim
Minhas mãos são grandes, te aplaudem assim
Meu peito é grande, ninguém quer brincar
Meus pés são grandes, no mesmo lugar
Mesmo lugar
Meu olho é grande, meu mundo é maior
Meu braço é grande, já me dei um nó
Meu sonho é grande, não quero acordar
Meu riso é grande, ninguém quer brincar
Quem quer brincar?
Quem é que nunca sentiu que o mundo é um gigante?
E achou que era fraco e se achou quase um rato?
E que o gato era o mundo, um gigante malvado?
E quem é que, coitado, não olhava pra cima
Esperando a porrada, o cacete, o esporro,
A mijada, a espora, o facão?
Quem é que nunca arregou, nunca teve paúra?
E será que alguém jura que nunca tremeu de pavor,
De terror, de vertigem, de altura (ó, que tava no chão!)?
E quem é o machão que não teve surpresa
De ser humilhado igual feio na festa e menino mijão?
Presta atenção!
Quem não perdeu a atenção dos seus pais?
Quem não foi encarnado depois de uma queda
Ou porque era vesgo ou porque era torto
Ou se o avô já tá morto, se sente sozinho
Ou porque é menorzinho ou porque é bobalhão
É pereba ou otário?
E olha presta atenção!
Quem não levou uma surra, perdeu um horário?
Quem é que jamais teve um sonho esmagado
Ou sofreu uma ofensa do melhor amigo?
E quem é que concorda comigo
Esse mundo é um gigante e a gente é anão?
A gente é anão!
Presta atenção!
Presta atenção!
Mundo gigante, doido mundo
Quem não sente medo quando venta?
Pode Ser (Oswaldo Montenegro)
Pode ser, que a gente se acostume a ficar só
Tente, só que eu duvido muito
Quando a gente fica junto
O coração desfaz o nó
E bate palma pra entrar na brincadeira
E bate palma que é pra mão não ficar só
E bate palma pra entrar na brincadeira
E bate palma que é pra mão não ficar só
E bate como vai bater a vida inteira o coração
Quando a gente se separa, dá um nó
Mel do Sol (Tema da Branca de Neve) (Oswaldo Montenegro)
O verão chegou trazendo a voz
Da paixão que escorre mel do sol
E incendeia o nosso coração menino
Brincando na areia
Que a paixão saiba cuidar de nós
Passageiros como a luz do sol
Que incendeia o nosso coração menino
Brincando na areia
Madrepérola de cores vãs
No vitral insone das manhãs
Que eu vi passar enquanto o sol menino
Brincava na areia
Que o verão saiba cuidar de nós
Que você beba do mel do sol
E que a sombra que o verão trará
Possa descansar seu corpo menino
Brincando na areia
A Oficina do Gepeto (Oswaldo Montenegro)
O tic tac do meu sonho
Ta que nem pode saber
Do que te queria e ponho
Onde possa parecer
Que o relógio tão tristonho
Adivinha sem querer
Não há nada mais risonho
Do que o tempo a correr
O tic tac desta noite
Ta que te quer de montão
Ta que bate como açoite
Te queria, coração
Perguntar quem foi
Que foi que te assustou
Quem foi que não
O relógio queima a noite
Derretendo a escuridão
A Festa (Imitando Gil) (Oswaldo Montenegro)
Era como mergulhar numa piscina
Essa menina, ah!
O Baco do Vinho sou eu
Megalomaní-acúmulo de vento
Se couber no pensamento
Se não couber já morreu
Era como a primeira tonteira
Imitando Gilberto Gil
Pra cantar a vida inteira
Cadê o som? Sumiu!
Cadê o som? Sumiu!
Tema dos Esportes no Vale (Sem Mandamentos) (Oswaldo Montenegro)
Hoje eu quero a rua cheia de sorrisos francos
De rostos serenos, de palavras soltas
Eu quero a rua toda parecendo louca
Com gente gritando e se abraçando ao sol
Hoje eu quero ver a bola da criança livre
Quero ver os sonhos todos nas janelas
Quero ver vocês andando por aí
Hoje eu vou pedir desculpas pelo que eu não disse
Eu até desculpo o que você falou
Eu quero ver meu coração no seu sorriso
E no olho da tarde a primeira luz
Hoje eu quero que os boêmios gritem bem mais alto
Eu quero um carnaval no engarrafamento
E que dez mil estrelas vão riscando o céu
Buscando a sua casa no amanhecer
Hoje eu vou fazer barulho pela madrugada
Rasgar a noite escura como um lampião
Eu vou fazer seresta na sua calçada
Eu vou fazer misérias no seu coração
Hoje eu quero que os poetas dancem pela rua
Pra escrever a músicas sem pretensão
Eu quero que as buzines toquem flauta-doce
E que triunfe a força da imaginação
Deuses são Seres Distantes (Papai Noel) (Oswaldo Montenegro)
Deuses são seres distantes
Santos só existem no céu
Só Papai Noel, um velhinho elegante
Visita as crianças sem véu
Seja uma bola de gude
Computador ou anel
Toda criança algum dia recebe
Um presente de Papai Noel
Tem quem não tem, mas procura
Quem perde e faz escarcéu
Tem que ter olhos de ver e alma pura
Pra perceber Papai Noel
A Fuga do Vale (Oswaldo Montenegro)
Abre logo o portão
Madrugada por todo Vale
Ta suando emoção
Ta com medo e tem um detalhe
O medo embaça a visão
Abre logo, antes que te abale
Ande na escuridão
O teu sonho parece um vale
Preso entre os morros (não!)
Solte o sonho, antes que se cale
Madrugada por todo Vale
Anoitecer no Vale (Oswaldo Montenegro)
Olha lá, o sol ta caindo
Como o riso em luz pra você
Viu? Não é só dor
Viu? Não é só tristeza, não
Pensar em Coisas Lindas (Oswaldo Montenegro)
Quando anoitece no Vale Encantado, fica só um fiozinho de luz vermelha lá no horizonte.
E todas as crianças do mundo param pra ver o pôr do sol.
Ah, o Deus das Fadas fica tão triste se a gente deixa de ver o pôr do sol!
A linha vermelha puxa uma carruagem cheia de estrelas, onde está a Deusa dos Sonhos e seu pó mágico, que faz a gente sonhar coisas lindas...
Quando vocês estiverem tristes, pensem em coisas lindas:
balas, travessuras, carinho, carrinho, beijo de mãe,
brincadeira de queimado, árvore de Natal,
árvore de jabuticaba, céu amarelo, bolas azuis,
risadas, colo de pai, história de avó...
Quando vocês forem grandes e acharem que a vida não é linda, pensem em coisas lindas.
Mas pensem com força, com muita força, porque aí o céu vai ficar cheio de vacas gordas amarelas, cachorro bonzinho, bruxa simpática,
sorvete de chocolate, caramelos e amigos.
Vamos, vamos lá! Vamos pensar só em coisas lindas!
Brincar na chuva, boneca nova, boneca velha, bola grande,
mar verde, submarino amarelo, fruta molhada, banho de rio,
guerra de travesseiro, boneco de areia,
princesas, heróis, cavalos voadores...
Ih! Já ta anoitecendo no Vale Encantado!
Dorme em paz, minha criança querida.
Vamos pensar em coisas lindas até amanhecer.
O Vale Encantado (Tema) (Oswaldo Montenegro)
Cachoeiras de hortelã
Folhas rosa por trás
Águias negras, cães azuis
Árvores lilás
Ninfas guardam sonhos
Guardiãs imortais
No Vale Encantado quem sorrir
Bebe o vinho da paz
Mares de safira e luz
Arco-íris no olhar
Barco branco que conduz
Quem quiser cantar
Vaga-lumes amarelos dançam no ar
No Vale Encantado quem sorrir
Bebe a luz do luar
Ventos de cereja e sons
De risada de irmão
Mil estrelas de bombons
Frutas de perdão
Hálito de oásis
Flor de afago no chão
No Vale Encantado quem sorrir
Pega o céu com a mão